“Cavaco devia lembrar-se da história do século XX. Por muito menos que isto foi morto o rei D. Carlos”. Palavras muito feias do Dr. Soares.
Alguém lhe diga que por muito mais que isto (uma miserável descolonização que prejudicou a vida de milhares) o Dr. Soares foi deixado vivo. Porque ninguém tem a direito de tirar a vida a outro.
O Dr. Soares insiste em deitar ao lixo a imagem de estadista que levou tempo a construir.
Há uns anos, chegando a Ministro das Finanças, um certo governante anunciou de imediato as seguintes medidas, aqui transcritas textualmente:
a) que cada Ministério se compromete a limitar e a organizar os seus serviços dentro da verba global que lhes seja atribuída pelo Ministério das Finanças;
b) que as medidas tomadas pelos vários Ministérios, com repercussão directa nas receitas ou despesas do Estado, serão previamente discutidas e ajustadas com o Ministério das Finanças;
c) que o Ministério das Finanças pode opor o seu «veto» a todos os aumentos de despesa corrente ou ordinária, e às despesas de fomento para que se não realizem as operações de crédito indispensáveis;
d) que o Ministério das Finanças se compromete a colaborar com os diferentes Ministérios nas medidas relativas a reduções de despesas ou arrecadação de receitas, para que se possam organizar, tanto quanto possível, segundo critérios uniformes.
Há dias, algo semelhante foi anunciado pelo ministério de Vítor Gaspar. Resultado: toda a gente estremeceu, comentou, repudiou.
Estas limitações ao funcionamento dos ministérios e serviços público, a que vulgarmente se chama de “ditadura do Ministro das Finanças”, já vêm de longe. Não são novidade. Gaspar não é o primeiro nem será o último a ter de lembrar duas coisas aos portugueses:
- só se pode gastar o que há
- nem tudo o que há se pode gastar
E a minha dúvida é a seguinte: quantos mais anos levaremos a perceber que Portugal tem de viver em permanente ditadura do Ministro das Finanças?
Já agora, o discurso acima foi feito por António de Oliveira Salazar.
Perguntou-se hoje no DN se o PM vai aproveitar a saída de Miguel Relvas para remodelar.
Em minha opinião, Pedro Passos Coelho precisava desta decisão do ministro para proceder à remodelar.
Ninguém compreenderia a entrada e saída de ministros se a situação de Miguel Relvas se mantivesse inalterada e, bem o sabemos, Pedro Passos não remodelaria Miguel Relvas nos mesmos termos dos restantes "remodeláveis".
Pela relação de ambos, pela importância política de Miguel Relvas, mas sobretudo porque - em bom rigor - a sua saída não tem as mesmas motivações.
Agora, o PM pode de facto estar à espera de uma decisão do Tribunal Constitucional, mas nunca foi esse o requisito para poder remodelar.
Têm sido muitos os erros estratégicos do actual governo mas acredito que uma remodelação bem feita pode reconciliar os portugueses com um trabalho duro, por vezes cego, mas essencial para a recuperação nacional que o Executivo tem de continuar a fazer.
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