A crise no PS
Todos os partidos têm momentos de crise interna. Acontecem sobretudo devido a discussões de liderança, habituais quando se está em oposição.
Por exemplo, na era pós-Cavaco, o PSD teve 3 líderes e diversos congressos eleitorais, muito disputados, até ficar “assente” que seria Barroso a disputar as legislativas.
Nesta fase de convulsão socialista, os restantes partidos têm de respeitar e aguardar que o PS recupere a estabilidade interna e volte a pensar exclusivamente no País.
Em todo o caso, podemos teorizar sobre o que aconteceu. Para mim, houve um golpe palaciano de António Costa a que Seguro não soube dar imediata resposta.
E duas respostas eram admissíveis:
a) "não tenho medo do escrutínio interno! Se o meu partido acha que não tenho condições para ganhar as legislativas, respeito-o demasiado para o querer liderar à força";
b) ou "o PS tem calendários eleitorais definidos e mandatos que devem ser respeitados. Quem se queria candidatar para este mandato, deveria ter concorrido em tempo certo."
Seguro começou por dizer que estava disponível para ponderar a opção a), depois a sua comissão política acabou por decidir a opção b) e agora surge uma tosca opção c), sugerida pelo próprio Seguro. Aparentemente, haverá apenas uma escolha de candidato a Primeiro-Ministro mas não uma luta de liderança.
Costa troçou da possibilidade de uma direção bicéfala. Ciente da asneira, Seguro apressou-se a dizer que abandona, magnanimamente, o cargo de secretário-geral caso perca as diretas.
No meio de tudo isto, eu pergunto: se Costa ganhar a disputa a Seguro, convocará novas eleições caso o mesmo Seguro, ou Silva Pereira, ou Assis, ou Alegre, ou o próprio Soares o desafiarem no mês seguinte? Quantas eleições de legitimação interna são admissíveis? Se várias, então está tudo louco no PS. Se o resultado do atual combate for considerado definitivo, o “ponto final” na discussão, então por que raio não é definitiva a anterior eleição de Seguro, que até já ganhou duas eleições nacionais.
Sou, sempre fui, adepto da estabilidade dos mandatos. Os partidos não podem ir a reboque das disponibilidades dos candidatos. Se o PS não perceber isso, nenhum líder estará seguro...
E foi mais uma Crónica de Segunda, para leitores de primeira.
O Inseguro Tozé
Não está ainda terminada a contagem mas já podemos tirar as nossas conclusões das Eleições Europeias de ontem.
As minhas são quatro.
- Os portugueses não sentem a Europa.
Tivemos uma abstenção “record” e isso não se explica apenas com a crise e o descrédito da política.
Se estiver na posse de todos os dados, do antes e do depois da adesão à UE, só um idiota não perceberá que a União está intimamente ligada ao desenvolvimento de Portugal. Porém, para que os portugueses se sintam parte do projeto Europeu e percebam a relevância da UE na sua vida diária, é preciso apostar em divulgação. Já vimos que os eleitores não procuram informar-se: é preciso levar a montanha a Maomé.
- Entre vencedores e vencidos vai um passo de formiga
Seguro fez um dos mais patéticos discursos da democracia portuguesa. Parecia ter ganho o Euromilhões, mas por dentro devia estar já a antecipar as facas longas que se afiam no PS.
Com uma distância de cerca de 4% face à Aliança Portugal (PSD e CDS), e uma abstenção de dois terços, Seguro percebe que fica longe de cilindrar o Governo, e que o Governo ficou longe de ser cilindrado pelo eleitorado...
- O Bloco perdeu a alma
Quando apareceu, o BE era um partido irreverente, lutador por causas fraturantes. Dizia-se que ia agarrar toda a juventude e os descrentes. Claro que o Bloco não passava de um partido de chicos-espertos, peritos em aproveitar os assuntos quentes para ganhar protagonismo. E tinha uma boa máquina de comunicação.
Hoje, sem os temas da droga, do aborto, do casamento entre homossexuais, o BE perdeu agenda. Ao mesmo tempo, ganhou barriga. Sentou-se! Assenhorou-se. É uma instituição de deputados e não de causas. O Partidos dos Animais tem mais agenda que o BE. Os portugueses já os perceberam. Ainda bem!
- A vitória do populismo
O resultado do MPT e de Marinho e Pinto provam duas coisas: o descrédito da bipolaridade partidária (a bem dizer, os portugueses estão fartos), e que o eleitor se deixa levar por qualquer bem-falante. Marinho e Pinto tem um discurso tão primário que tolhe a inteligência de quem usa o cérebro, e um populismo que nos assusta.
A sua eleição é uma chapada para os partidos do chamado “arco democrático”. Ou se modernizam ou veremos a política portuguesa ser inundada de outros Marinhos, tão grosseiros quanto o original...
E foi mais uma Crónica de Segunda, para leitores de primeira.
"As pessoas confiam mais no Primeiro-Ministro do que naqueles que o chamam de mentiroso." (António Costa, Quadratura do Círculo)
As coisas que se tem de dizer ao homem que "nos" vai pagar a campanha...
António Costa e Helena Roseta (com o seu movimento de cidadãos extremamente independentes) firmam acordo que atribui responsabilidades a Roseta e a outra vereadora da sua lista.
O que não vai acontecer é a assunção de pelouros.
Espertinhos...
E a pergunta é: alguém tinha dúvidas que Costa e Roseta se viriam a tornar amigos?
A sede por rebentar Sócrates é tanta...
Também escrevo aqui