O Carlos Enes tem os três requisitos que fazem dele um grande Jornalista: excelente domínio da língua, notável perspicácia e enorme coragem. Há dias, este Psico-Amigo foi à "Comissão". Porém, mais me parece que é a "Comissão" que está a querer ir ao Carlos, e a sangue-frio.
Porquê? Um dos principais motivos: fiel à deontologia, não quer revelar fontes. E prefere ir preso a fazê-lo.
"Não troco 15 anos de profissão por 15 minutos de fama!", declarou.
É pena que não haja no Tubo clips mais completos que este, mas quem não conhece um dos nossos melhores jornalistas de investigação, estes dois minutos são esclarecedores quanto à sua têmpera.
É um orgulho ter amigos desta natureza.
Eu pergunto se o "imprescindível" sindicato dos jornalistas já se pronunciou. Alguém sabe?
Ou a rapaziada da doentologia, tão rápidos nestes casos a ir às televisões, já se os ouviu piar?
Muitos se questionam como foi possível que o povo alemão pudesse acompanhar tão cegamente Adolf Hitler.
Todos os nossos registos nos indicam um homem destrutivo, perverso, insano. Era do pêlo à medula absolutamente obstinado com o poder e com o imperialismo.
As suas ordens, e as dos seus mais próximos, eram ominosas, indignas, sangrentas.
Das câmaras de gás à proibição dos partidos políticos, fez-se de tudo.
A evidência do aviltamento e extermínio de vários grupos humanos (judeus, ciganos, deficientes, homossexuais) era tal que só uma bebedeira colectiva pode explicar que o cidadão médio alemão não se tenha levantado em massa para apontar o dedo ao regime.
E ainda hoje, por estado psicológico de negação ou pura má fé, há quem negue a iniquidade daquele homem e do seu regime.
Não notam uma semelhança com José Sócrates e o apoio cego com que ainda conta por parte de muitos portugueses? As evidências contra este PM são tantas e tão gritantes, que nos faz parecer afectados pela estranha bebedeira alemã.
Admito que a maioria não tenha capacidade crítica para apreciar os diversos dados, que outros comprem a tese da perseguição e retribuam com apoio incondicional, que outros ainda não aceitem de bom grado a ideia que votaram num político sujo.
Admito também que, com o tempo, acontecerá a Sócrates o mesmo que aconteceu a outros políticos (a Freitas para a presidência da República ou a Menezes para a liderança do PSD): em breve, serão poucos os que confessarão ter votado nele.
"Se as mentiras valessem tanto como um par de cornos já não havia ministros. E muito menos presidente do Conselho".
António Ribeiro Ferreira, "Correio da Manhã", 06-07-2009
Não será opinião inédita mas estou convicto que foi o chefe que lhe disse:
- Epá, desta vez não te consigo segurar! No ínício do mandato, eu ainda era muito forte, todo poderoso e podia ser arrogante à vontade que o Povo comia! Agora estou a fingir-me de pessoa com sentimentos. Tens de sair, pá!
Se o chefe de Pinho fosse adepto da Política de Verdade, teria dito à imprensa que pediu ao Ministro que repensasse a manutenção no Governo.
Manuel Alegre negou que tenha negociado com José Sócrates nomes de apoiantes seus para integrarem a lista de candidatos a deputados do PS nas próximas legislativas.
Para ele não se trata de um mero tacho: é o patamar para o qual tem vocação.
Cavaco, Guterres e Sócrates estiveram todas na alta-roda europeia (e mundial) devido às presidências portuguesas da União. No entanto, a nenhum assentou o fato.
Cavaco é (ou era) pouco dado ao folclore.
Guterres falava línguas (como depreciava Soares) mas ele era o pacóvio que "tratava por tu 6 primeiros-ministros da Europa".
Sócrates é um peneirento, a quem não cabe um feijão onde nem é suposto estar.
Barroso, pelo contrário, é o homem do mundo.
Aquele que estudou em Londres, aquele que (em vários encontros com a JSD) apelava à juventude portuguesa:
"Vão lá para fora! fundam-se com o mundo! deixem que o mundo vos ensine e contribuam para que o mundo também aprenda convosco. Depois voltem e usem a vossa experiência para melhorar Portugal! Mas não esqueçam - tenham experiências lá fora."
Se gostei que tivesse partido?
Não!
Se preferia que tivesse ficado?
Sim, preferia.
Se compreendo que um homem deve perseguir os seus sonhos?
"José Sócrates tenta que o povo mostre já nas eleições europeias o cartão amarelo ao Governo, na esperança que as coisas melhorem até às legislativas." (Paulo Ferreira, JN, hoje)
Temos de pedir aos britânicos que investiguem a morte de Francisco Sá Carneiro.
É notório que vão mais fundo que nós no que toca a desenterrar factos sobre Primeiros-Ministros portugueses...
As pessoas detestam reconhecer que foram enganadas por um candidato. Inventam (para si e para os outros) milhentas desculpas que inocentam o "seu" candidato das acusações de incompetente, corrupto ou mentiroso.
Muitas, lá no fundo, sabem que se enganaram mas não dão o braço a torcer. Espero bem que a vontade de ultrapassar a crise seja um propósito mais forte do que apenas manter a face. Se assim for, Sócrates perderá o apoio dos que hoje sabem que se enganaram.