Terça-feira, 29 de Julho de 2008
A propósito da exclusividade dos médicos no SNS, o bastonário afirmou: "o médico é um cidadão como outro qualquer e portanto quando acaba as horas de trabalho que contratualizou com uma empresa, seja pública ou privada, faz o que bem entender".
Não sei se a Ordem dos Médicos tem um jurista nos seus quadros. Caso tenha, o que diria o Bastonário se depois das horas de trabalho, esse jurista fosse dar uma perninha ao Ministério da Saúde?
De Zé da Burra o Alentejano a 30 de Julho de 2008 às 16:34
Eis uma medida que parece boa mas não é: visa dificultar o cruzamento de interesses entre o Serviço Nacional de Saúde (Público) e os Serviços Privados de Saúde, o que eliminaria a suspeita (fundada ou talvez não) de favorecimento no SNS de doentes vindos de clínicas privadas onde os médicos do SNS também trabalham, ou o encaminhamento de doentes do SNS para as clínicas privadas onde esses médicos também trabalham.
A medida é péssima, mormente quando se sabe da extrema carência de médicos e de outros profissionais de saúde. Assim, a medida irá provocar apenas a debandada dos médicos para as muitas clínicas privadas que estão agora a abrir e que lhes dão muito melhores condições monetárias e outras.
Uma medida destas teria que ser preparada com uma década de antecedência, aumentando consideravelmente o número de vagas nas faculdades de medicina de modo a que tivéssemos médicos (e outros profissionais de saúde) em quantidade suficiente.
Mas na realidade, os nossos Governantes nunca o fizeram e a "Ordem dos Médicos" é uma organização corporativa que defende apenas o interesse dos actuais médicos e dificulta o acesso à profissão a novos profissionais. Daí a ser sempre contra a aumento de vagas nas faculdades de medicina, apesar de todos nós constatarmos a extrema necessidade de as aumentar. É que mais médicos significa enfraquecimento da classe, porque a regra de mercado "de Oferta e da Procura " também se aplica aos médicos. Mais médicos poderá representar que alguns se possam aceitar regras que outros rejeitam (por exemplo: esta regra que se quer impor).
E não interessa o rácio de médicos por habitante, porque se todos trabalharem nas clínicas privadas a generalidade dos cidadãos não poderão aceder à saúde. Além disso, Portugal tinha até obrigação de formar profissionais de saúde para para os PALOP que deles muito necessitam e mais valia o país apostar nisso do que em cursos sem saídas profissionais que servem apenas para dar emprego a professores universitários.
Assim, esta medida será apenas mais uma ajuda ao abate do SNS!
Caro Zé da Burra,
agradeço o seu texto, muito claro sobre este tema.
Concordo consigo e é também essa a minha opinião, como pode verificar se entrar (recomendo e agradeço) nesta discussão do Psicolaranja: http://psicolaranja.blogspot.com/2008/07/sns-rip.html
O que tentei foi explicar (aqui e no Psico) que a exclusividade não é um conceito aberrante.
Muitas vezes, ou quase sempre, pretende impedir aproveitamentos em caso de conflitos de interesse.
"A exclusividade é um conceito normalíssimo. Tal com o dever de sigilo, a omissão de drogas nos funcionários dos casinos, etc.
Neste tema acho que a exclusividade não ia resolver nada.
No entanto, se o SNS fosse de qualidade e se houvesse médicos com fartura, não tenham dúvidas: exclusividade na hora."
Saudações
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