Se Bocage fosse vivo
E me quisesse retratar,
Saberia melhor eu
Que palavras aqui usar.
Mas ele já Bocage não é
E eu Bocage nunca fui!
Conto assim só comigo
Para sair do meu abrigo
E falar-vos de tudo aquilo
Que em mim conflui!
Não sou alta nem baixa
Nem gorda nem palita:
Sou a caixa ideal
Para quem lá habita.
Sou sempre morena para quem me vê
Com os olhos que traz na cara.
Mas a esperta visão da alma
Dá-me cores diferentes
E muito conforme a calma
Do atento espectador...
Há dias de grande brilho,
E por dentro sou um sol,
Mas noutros o negro invade
E fico triste, cansada e mole.
Porém nem tudo é de extremos:
Há gradações nesta inês!
Alegria contida, fúria declarada,
Calma pachorrenta, pulsação acelerada!
Amores mais que uma vez
E choros sem porquês!
Se o Génio de Aladino
Um desejo me conceder,
A frescura dos meus lábios
Lhe pediria para manter.
São quentes e rosados seres
Que anseiam macios prazeres.
E em segredo perguntam à boca:
- De quem será o doce beijo
Que pedem os lábios da
Ironoca?
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