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Sábado, 21 de Junho de 2014

Crónicas de Segunda 2

Amor, Ódio e Génio

 

 

O Acordo Ortográfico seria o primeiro tema destas crónicas. Por um triste acaso, o tópico mudou. A ironia é que este texto será sobre Vasco Graça Moura (VGM), de quem eu discordava precisamente acerca do Acordo. 

Foram poucas e de curta duração as vezes em que privei com este homem ímpar que ontem faleceu. Quando acontecia, sentia-me sempre embasbacado pelo brilho que este homem irradiava.

O seu fino trato, o humor, a subtileza eram o embrulho de uma arte maior que possuía: a partilha do conhecimento. Na sua presença, sem percebermos, entrávamos fatalmente no mundo dos livros, da Arte, da História, e aprendíamos sempre alguma coisa nova.

 

Nas últimas horas, não faltaram vozes públicas a comentar facetas pessoais, profissionais ou artísticas de Vasco Graça Moura. Só ouvimos elogios, claro: na morte somos consensuais... E VGM era consensual apenas quanto à sua obra literária!

 

Graça Moura defendia, sucintamente, que o Estado tinha duas grandes funções: a) formar os cidadãos e garantir-lhes o acesso à cultura; e b) proteger, disponibilizar e divulgar a herança cultural portuguesa. Evidentemente, à Direita seguiam-no, à Esquerda não o podiam ouvir.

O mesmo acontecia com outros homens da cultura ligados ao pensamento político. Saramago é um bom exemplo da “corrente” oposta. Com a diferença de Saramago não ser tão consensual na apreciação artística. Sobretudo porque muitos não conseguem ultrapassar a formatação da sua brilhante escrita.

 

Voltando a Graça Moura, mais que fazer a sua apologia enquanto escritor, neste texto quero elogiar o político.

Durante cerca de dez anos (1979-88), foi administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, onde deu um forte impulso à área editorial. Contribuiu para a cultura portuguesa editando muitos dos clássicos, reavivando autores esquecidos, publicando obras que já não se encontravam no mercado há décadas ou séculos. Deu voz a todas as vertentes da cultura literária, nomeadamente os chamados “escritores comunistas”.

 

É esta dimensão democrática que devemos ter da cultura que eu queria hoje salientar. Morreu um príncipe. Honremos o seu exemplo!

 

Eis a primeira Crónica de Segunda, para leitores de primeira.

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