Um quarto da população prisional portuguesa sofre de uma qualquer doença infecto-contagiosa.
Má salubridade e deficiente acesso a cuidados médicos estão entre as principais causas desta situação.
Parece que temos cidadãos de segunda.
Em mais casos do que todos gostaríamos, enviar alguém para a prisão é uma quase sentença de morte.
Começou agora a ser julgado o caso de um motim acontecido há 13 anos na Prisão de Caxias.
Tudo começou com greves ao trabalho, greves de fome e sérias críticas: falta de higiene, direitos humanos violados, sobrelotação das celas, alimentação deficiente... E evoluiu para uma revolta, com os excessos que conhecemos. Segundo a acusação, os presos montaram uma barricada com baldes de lixo, camas, colchões e cadeiras, atiraram objectos e lixívia aos guardas e atearam fogo na sequência de lhes ter sido negada a possibilidade de falar à comunicação social.
Um dos réus, contendo a emoção, contou hoje a humilhação e medo que sentia naqueles tempos: partilhava cela com reclusos infectados com doenças mortais e altamente contagiosas.
13 anos volvidos, tenho algumas perguntas:
- Que justiça é esta que demora 13 anos a chegar à fase de julgamento?
- Que justiça é esta tenta rasteirar ex-reclusos que refizeram as suas vidas e pagaram as dívidas para com a sociedade?
- A provarem-se as miseráveis condições que o sistema prisional “zelosamente” dedicou a estes seres humanos, tratar-se-á de motim ou luta pela dignidade?
(publicado no Psicolaranja)