Se Bocage fosse vivo
E me quisesse retratar,
Saberia melhor eu
Que palavras aqui usar.
Mas ele já Bocage não é
E eu Bocage nunca fui!
Conto assim só comigo
Para sair do meu abrigo
E falar-vos de tudo aquilo
Que em mim conflui!
Não sou alta nem baixa
Nem gorda nem palita:
Sou a caixa ideal
Para quem lá habita.
Sou sempre morena para quem me vê
Com os olhos que traz na cara.
Mas a esperta visão da alma
Dá-me cores diferentes
E muito conforme a calma
Do atento espectador...
Há dias de grande brilho,
E por dentro sou um sol,
Mas noutros o negro invade
E fico triste, cansada e mole.
Porém nem tudo é de extremos:
Há gradações nesta inês!
Alegria contida, fúria declarada,
Calma pachorrenta, pulsação acelerada!
Amores mais que uma vez
E choros sem porquês!
Se o Génio de Aladino
Um desejo me conceder,
A frescura dos meus lábios
Lhe pediria para manter.
São quentes e rosados seres
Que anseiam macios prazeres.
E em segredo perguntam à boca:
- De quem será o doce beijo
Que pedem os lábios da
Ironoca?
Era uma vez duas serpentes que não gostavam uma da outra. Um dia encontraram-se num caminho muito estreito e como não gostavam uma da outra devoraram-se mutuamente. Quando cada uma devorou a outra não ficou nada. Esta história tradicional demonstra que se deve amar o próximo ou então ter muito cuidado com o que se come.
(Ana Hatherly)
Já quase a fechar este dia 25 de Abril, segue um poema de Bocage que bem podia ser um poema do 24 de Abril:
Mote: A morte para os tristes é ventura
Quem se vê maltratado, e combatido
Pelas cruéis angústias da indigência
Quem sofre de inimigos a violência,
Quem geme de tiranos oprimido:
Quem não pode ultrajado, e perseguido
Achar nos céus, ou nos mortais clemência,
Quem chora finalmente a dura ausência
De um bem, que para sempre está perdido:
Folgará de viver, quando não passa
Nem um momento em paz, quando a amargura
O coração lhe arranca e despedaça,
«A morte para os tristes é ventura.»
Da minha ingrata Flérida gentil
Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.
(ouvir)
Este é um excerto de um poema de António Gedeão.
É dedicado a Galileu.
Quem enviar para o meu email (pauloriomaior@gmail.com) a resolução deste quase enigma, recebe um prémio.
(tem de o vir buscar à Punch)
Filipe II tinha um colar de oiro,
Um professor de literatura árabe vai publicar poemas de Bin Laden. Flagg Miller descobriu que Laden recitava poesias em festas. "Ele é um poeta habilidoso, com boas rimas e métrica", disse. Estou mesmo a ver o tipo de poemas:
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
Morreu há 21 anos.
Sobrevivem-lhe as palavras.
Também escrevo aqui